Rue de Lappe, Paris, Outubro de 2012
Fotografar
não é uma grande paixão minha. Congelar, mostrar, guardar imagens. Não
fotografo bem.
Tenho
que limitar meus outros sentidos para focar na visão. Não que minha memória
seja fotográfica. Não é. Depois sempre peno para lembrar fatos, descrever
situações, lugares. Mas... para quê mesmo?
Minha
memória é toda sentidos, sensações, sentimentos. Guardo o que senti. Na pele,
nos olhos, no coração, nas mãos, na alma. Guardo cheiros, paladares, frios,
calores, sons, vozes, calafrios. Guardo arrepios. Meus outros sentidos me
roubam o olhar. Nunca consigo descrever. Não consigo lembrar por onde passei,
como fui, como cheguei, que direção tomei...
Meus
sentidos estão todos aguçados. Lembro se chovia, se fazia frio, se tinha raios
de sol. Lembro se o sol batia no meu rosto... e no seu. Se as pessoas andavam
encolhidas ou abertas, se sorriam ou estavam cinza. Não esqueço um sorriso
largo, um semblante triste, uma criança brincando e suas risadas. Barulho de
carros me dispersa, conversas paralelas me confundem. Levo
meus sentidos todos aguçados. Folhas caindo de árvores me chamam, pedras na
praia me distraem, horizontes levam meu pensamento para passear.
As imagens
esculpidas nas fachadas antigas me remetem às suas histórias. Rostos têm
sentires fartos. Não me interessa como foi feito, de que material, qual
técnica, quem esculpiu... ou quando. Quero o que representa. Se não sei,
imagino. Me
serve. Me basta. Crio na mente os porquês de seus semblantes graves,
assustados, vazios, vazados. Não
ando pelas cidades a decorar caminhos. Se um dia voltar, os descubro de novo. É
meu encanto: sentir de novo o espanto da descoberta.
Ando pelas cidades para
sentir seus ares. Sentir e reviver sua história. Nunca sei por onde passei. Não
sei contar o que vi. Só conto o que senti. Não me peça mais que isso.
Só (me) reconheço nos
sentidos. Por favor, não alimente ruídos.
AnaCris Martins
Um comentário:
E, portanto, esta foto não está nada má. Uma ligeira correção nas zonas sombreadas e ela fará um belo cartão postal de uma rua.
O texto também está muito bom. Parabéns, não alimentarei ruídos.
Saudações literárias,
André
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