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segunda-feira, 22 de abril de 2013

O ponto de demência de alguém é a fonte de seu charme. Deleuze


Sim, talvez seja isso: os que têm alguma "demência" não desmoronam. 
São os que conseguem ser humanos, não se prendem nem se impõem a si a obrigação absurda e impossível de serem divinos, de nunca errarem. Não se obrigam a se sacrificarem pelo que os 'outros' querem ou esperam de si. São e deixam ser. Perdem o controle, porque é do ser humano - e animal? - nunca tê-lo de fato. Quem tenta a todo custo nunca errar, já se matou faz tempo. Só está esperando a hora de se enterrar. Mas, para quê? Talvez para se dar a glória de cometer o seu último maior e memorável erro. 

Pequena parte do abecedário do Deleuze

"O verdadeiro charme das pessoas reside em quando elas perdem as estribeiras, quando não sabem muito bem em que ponto estão. Não são pessoas que desmoronam, pelo contrário, nunca desmoronam. Mas se não captar a pequena marca de loucura de alguém não pode gostar deste alguém. Não pode gostar dele. É exatamente este lado que interessa. E todos nós somos meio dementes. Se não captar o ponto de demência da pessoa, eu temo que... aliás, fico feliz em constatar que o ponto de demência de alguém seja a fonte de seu charme.” Deleuze

Um comentário:

Tan disse...

Eu adoro o Deleuze, mesmo quando discordo dele. Sei que ele está falando de um outro lado que também importa. Como ele diz no Proust, a pessoa gosta por motivos estranhos (tive que cuidar na escolha da palavra), que mexem com o seu inconsciente, e a obrigam a sentir o novo e a pensar. Olhando para trás, as minhas namoradas sempre foram um pouco fora do racional comum, que não me agrada. É uma coisa que envolve mais, se não for exagerada...rs... Mas que também tem o seu outro lado... Conviver com uma pessoa com 'maturidade afetiva' (Expressão tirada do André Green, O Afeto, livro que valoriza muito o Deleuze de Lógica do Sentido) é importante. Enfim, Deleuze não é o dono da razão ou desrazão. Eu gosto muito dele, ele escreve super bem e faz pensar. Às vezes fica naquela 'máquina de linguagem' girando no vazio, intensidade, linha de fuga, um fora mais dentro do que o dentro... (o inconsciente?), etc.
Mas enfim, isto é um gosto pessoal.