Meus avós, maternos e paternos, eram portugueses.
Meus avós espancavam minhas avós, para intimidá-las a não mancharem suas “honras”.
Para elas, alegavam ciúmes. Perfeita justificativa. Se ele tem ciúmes, é porque ele me ama demais!
Minha avó materna ficou viúva cedo.
Pôde vir ao Brasil várias vezes, cortar os cabelos curtos.
É bem verdade, que o fez no aeroporto, ao embarcar para o Brasil...
Afinal, o que podiam pensar dela na aldeia?!
Quando voltou à terrinha, já tinha os cabelos longos de novo...ufa!
Viveu uns 30 anos sozinha.
Morreu com avançada idade, já demente.
Com saudades do meu avô, mas agradecida a Deus por tê-lo levado cedo.
Minha avó paterna, já com mais de 60 anos, fugiu para o Brasil.
Sim, fugiu, sem um puto no bolso. Comprou a passagem para “pagamento futuro”.
Dívida paga depois, à duras penas, pelos filhos "brasilerios".
Fugiu das surras (seguidas muitas vezes de sexo não-consensual)
e do sofrimento causado pelo "amor demais" de meu avô.
Contam que meu pai, filho mais velho, homem feito aos 17, quase o matou...
Veio para o Brasil, para não cometer tamanho pecado.
Ele a chamava de “puta”. A surrava, a violentava e... a chamava de puta.
Uma mulher que, como tantas daquelas aldeias
perdidas no meio do nada e distantes no túnel do tempo,
Levava o rosário, inseparável, enrolado nas mãos ou pendurado no pescoço.
De cabelos longos, que nenhum outro homem tocara, presos em coque.
Sem maquiagem ou qualquer cuidado pessoal.
Usava aquelas indefectíveis meias pretas!
E saias compridas... também pretas, "arrematadas" com um avental sujo e surrado...
Que denunciavam sua esperada e aceitável condição "feminina".
Beleza em seu rosto não se via, tampouco graça tinha.
Com a fuga, ela virou mesmo, uma puta... para a provinciana aldeia de plantão!
Passaram-se 5 anos e, minha avó, resoluta e feliz,
não queria nem ouvir falar em voltar.
Meu avô veio “buscá-la”. Ela não quis ir.
Exigiu pedido de perdão e a promessa de não agredi-la mais.
Os filhos fizeram “lobby”. Promoveram verdadeiras catarses em família.
Convencerem, finalmente, o velho turrão.
Meu avô, deu-lhe flores (pela primeira vez!),
Pediu-lhe perdão e jurou não mais agredi-la.
Morreu uns 10, 15 anos depois, de pneumonia.
Minha avó escreveu para os filhos e netos:
- Estou a morrer de saudades. Foram os melhores anos de minha vida!
Ela se foi um ano depois...
Meus pais jamais se agrediram, mesmo em palavras.
Apesar das inúmeras discussões calorosas.
Nunca uma ofensa, nunca sequer um levantar a mão.
Jamais presenciei "atitudes" de ciúmes ou de desconfiança entre eles.
Até me tornar "mocinha namoradoira", nem sabia o que isso era,
e só fui sentir algo que identifiquei como ciúme, quando fui "traída".
Não soube lidar com a infidelidade, e sobretudo, com a deslealdade.
O desequilíbrio emocional tomou conta.
A superação veio mais tarde e fez desaparecer os sentimentos e atitudes "ciumentas".
Confiança e respeito, mesmo depois que o amor deu lugar ao costume,
nunca deixou de existir entre meus pais.
Aprendi, portanto, que mais que o ciúme,
o "descontrole do ciúme"
que gera aquelas atitudes autoritárias e covardes,
não é algo bom e, em nenhuma instância, aceitável.
Gerador de violência, sinônimo de fraqueza e de falta de caráter.
O ciúme não é bom!
Meus avós espancavam minhas avós, para intimidá-las a não mancharem suas “honras”.
Para elas, alegavam ciúmes. Perfeita justificativa. Se ele tem ciúmes, é porque ele me ama demais!
Minha avó materna ficou viúva cedo.
Pôde vir ao Brasil várias vezes, cortar os cabelos curtos.
É bem verdade, que o fez no aeroporto, ao embarcar para o Brasil...
Afinal, o que podiam pensar dela na aldeia?!
Quando voltou à terrinha, já tinha os cabelos longos de novo...ufa!
Viveu uns 30 anos sozinha.
Morreu com avançada idade, já demente.
Com saudades do meu avô, mas agradecida a Deus por tê-lo levado cedo.
Minha avó paterna, já com mais de 60 anos, fugiu para o Brasil.
Sim, fugiu, sem um puto no bolso. Comprou a passagem para “pagamento futuro”.
Dívida paga depois, à duras penas, pelos filhos "brasilerios".
Fugiu das surras (seguidas muitas vezes de sexo não-consensual)
e do sofrimento causado pelo "amor demais" de meu avô.
Contam que meu pai, filho mais velho, homem feito aos 17, quase o matou...
Veio para o Brasil, para não cometer tamanho pecado.
Ele a chamava de “puta”. A surrava, a violentava e... a chamava de puta.
Uma mulher que, como tantas daquelas aldeias
perdidas no meio do nada e distantes no túnel do tempo,
Levava o rosário, inseparável, enrolado nas mãos ou pendurado no pescoço.
De cabelos longos, que nenhum outro homem tocara, presos em coque.
Sem maquiagem ou qualquer cuidado pessoal.
Usava aquelas indefectíveis meias pretas!
E saias compridas... também pretas, "arrematadas" com um avental sujo e surrado...
Que denunciavam sua esperada e aceitável condição "feminina".
Beleza em seu rosto não se via, tampouco graça tinha.
Com a fuga, ela virou mesmo, uma puta... para a provinciana aldeia de plantão!
Passaram-se 5 anos e, minha avó, resoluta e feliz,
não queria nem ouvir falar em voltar.
Meu avô veio “buscá-la”. Ela não quis ir.
Exigiu pedido de perdão e a promessa de não agredi-la mais.
Os filhos fizeram “lobby”. Promoveram verdadeiras catarses em família.
Convencerem, finalmente, o velho turrão.
Meu avô, deu-lhe flores (pela primeira vez!),
Pediu-lhe perdão e jurou não mais agredi-la.
Morreu uns 10, 15 anos depois, de pneumonia.
Minha avó escreveu para os filhos e netos:
- Estou a morrer de saudades. Foram os melhores anos de minha vida!
Ela se foi um ano depois...
Meus pais jamais se agrediram, mesmo em palavras.
Apesar das inúmeras discussões calorosas.
Nunca uma ofensa, nunca sequer um levantar a mão.
Jamais presenciei "atitudes" de ciúmes ou de desconfiança entre eles.
Até me tornar "mocinha namoradoira", nem sabia o que isso era,
e só fui sentir algo que identifiquei como ciúme, quando fui "traída".
Não soube lidar com a infidelidade, e sobretudo, com a deslealdade.
O desequilíbrio emocional tomou conta.
A superação veio mais tarde e fez desaparecer os sentimentos e atitudes "ciumentas".
Confiança e respeito, mesmo depois que o amor deu lugar ao costume,
nunca deixou de existir entre meus pais.
Aprendi, portanto, que mais que o ciúme,
o "descontrole do ciúme"
que gera aquelas atitudes autoritárias e covardes,
não é algo bom e, em nenhuma instância, aceitável.
Gerador de violência, sinônimo de fraqueza e de falta de caráter.
O ciúme não é bom!
OBS: este texto foi baseado em fatos reais, mas contém alguns "floreios", claro. Como escritora, me dou o direito à licença poética! rsrs
5 comentários:
Ana Cristina,
Belíssimo, o teu post!
Uma história digna de um romance de 200 páginas!
E que bom que o tema ciúme também te pegou. Aliás, gostei muito dos teus comentários deixados no blog Mude. Tanto que quase transferi parte dele para o post frontal (pediria tua autorização, antes, é claro!).
Entretanto, não acho que os ciúmes se devem à "evolução" do ser humano. Sobre isso, fiz um update no meu texto.
Abraços, flores, estrelas..
Carambaaaa!!!!!
Tem muita coisa aqui que eu nem sonhava em saber!!!!!
aff
já percebi que se tua vida como "peqsuiseira" não dercerto, dá pra vc ganhar o pão nosso como escritora!!!
Gostei muito do seu estilo irônico/agressivo/filôsofo...
Beijos, Luís...
Vixee!
Essa historia da fuga eu não sabia não, ou pelo menos não me lembro de tê-la ouvido!
Mas a do corte de cabelo acho que já tinha ouvido alguma coisa sim, rsrs
Ah, faço sempre uma visitinha aqui viu, gosto dfe ver o que escreve, rsrs
Bjoca
Ana Cristina,
Vim te reler.
E para dizer que gostei muito da tua réplica aos meus comentários.
Evolução nem sempre significa progresso...
Abraços, flores, estrelas!
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