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Eu só queria que a vida
Assim todinha
Tivesse poesia
Que tivesse dia
E noite de cantoria
Que desse disritmia
Verbo, vogal, melodia
Que fosse chama
Mas não azia
Eu só queria que fosse poesia
Que tirasse do chão
Jogasse na cama
Fizesse rima vadia
Tivesse palavraria
Colo, braço, maresia
Eu só queria que tivesse poesia
Que aquece, corta e vicia
Eu queria só um pedaço
Uma fatia
Que fosse inteiro
torto, afasia
eu queria o pouco que já estasia
com meia alegria
eu queria o que me cabe
e o que eu não teria
tango, missa, romaria
manco, frouxo, miopia
eu só sei que queria poesia
mão, cheiro, talho
caco, vidro, cascalho
casa de alvenaria
de barro feito em olaria
eu só queria
verso, estrofe, rima
ancas, pernas por cima
quanta agonia!gravada na minha anatomia
fulgor, cor, avaria
mas eu só queria que fosse poesia
e fizesse da minha festa
fantasia
com o perdão da ironia
eu tenho essa mania
mas...
não tem, não foi,
não deu, não seria
esquece e me traz
uma sangria
cheia de vícios
e uma taça vazia
que eu vou dormir na pia.
AnaCris Martins
4 comentários:
Sinto falta da poesia nas pequenas e grandes coisas...
Na minha vida, no meu dia-a-dia.
Sou artista que mendiga sonhos.
Obrigada por este doce momento.
Simplesmente adorei, demais!
Muito bom Ana Cris, beijos ...
Que coisa boa de se ler! Poesia pura!! Gostei demais mesmo!! Fico até um pouco mais com alegria depois dessa leitura, nas vistas... e mesmo que acha uma dose de realidade de tristeza por ausências, só por tê-las percebido, e o modo como foram notadas, já me tenho aqui cativo...
Incrível...eu ia escrever uma poesia sobre a falta que a poesia me faz em alguns momentos em que tudo o que eu precisava...era de poesia...e me deperei com o meu pensamento escrito por você. Incrível o seu texto.
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