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terça-feira, 28 de junho de 2011

Eu só queria poesia

Volegov






















Eu só queria que a vida
Assim todinha 
Tivesse poesia


Que tivesse dia
E noite de cantoria
Que desse disritmia
Verbo, vogal, melodia
Que fosse chama
Mas não azia


Eu só queria que fosse poesia


Que tirasse do chão
Jogasse na cama
Fizesse rima vadia
Tivesse palavraria
Colo, braço, maresia


Eu só queria que tivesse poesia


Que aquece, corta e vicia
Eu queria só um pedaço
Uma fatia
Que fosse inteiro
torto, afasia
eu queria o pouco que já estasia
com meia alegria


eu queria o que me cabe
e o que eu não teria
tango, missa, romaria
manco, frouxo, miopia


eu só sei que queria poesia


mão, cheiro, talho
caco, vidro, cascalho
casa de alvenaria
de barro feito em olaria
eu só queria
verso, estrofe, rima
ancas, pernas por cima
quanta agonia!
gravada na minha anatomia
fulgor, cor, avaria


mas eu só queria que fosse poesia


e fizesse da minha festa
fantasia
com o perdão da ironia
eu tenho essa mania


mas...
não tem, não foi,
não deu, não seria
esquece e me traz
uma sangria
cheia de vícios
e uma taça vazia
que eu vou dormir na pia.




AnaCris Martins



4 comentários:

Marina Mah disse...

Sinto falta da poesia nas pequenas e grandes coisas...
Na minha vida, no meu dia-a-dia.
Sou artista que mendiga sonhos.
Obrigada por este doce momento.

Paixão disse...

Simplesmente adorei, demais!
Muito bom Ana Cris, beijos ...

Edu Lazaro disse...

Que coisa boa de se ler! Poesia pura!! Gostei demais mesmo!! Fico até um pouco mais com alegria depois dessa leitura, nas vistas... e mesmo que acha uma dose de realidade de tristeza por ausências, só por tê-las percebido, e o modo como foram notadas, já me tenho aqui cativo...

Anônimo disse...

Incrível...eu ia escrever uma poesia sobre a falta que a poesia me faz em alguns momentos em que tudo o que eu precisava...era de poesia...e me deperei com o meu pensamento escrito por você. Incrível o seu texto.